O USO CURATIVO DAS PLANTAS ATRAVÉS DA HISTÓRIA

O USO CURATIVO DAS PLANTAS ATRAVÉS DA HISTÓRIA

ACÁCIA
Historicamente o uso terapêutico das plantas é milenar, como também são milenares algumas praticas e técnicas de manipulação de ervas e plantas que são utilizadas até hoje.
Através de papiros egípcios e orientais, foi possível resgatar detalhes da medicina praticada pelos povos antigos. O mais antigo registro encontrado sobre as propriedades medicinais das plantas, é o Pen Ts´ao , escrito cerca de 2800 aC por um herborista chinês, que descreve o uso de centenas de plantas medicinais na cura de varias enfermidades.
Na seqüência aparecem os papiros egípcios datados de 2270 aC, descobertos pelo egiptólogo alemão George Ebers, onde além de informações sobre os remédios fitoterápicos, existem descrições detalhadas sobre cirurgias.
Os sumerios, habitantes da antiga Mesopotâmia, foram considerados o primeiro povo a praticar a agricultura. Seus sábios sacerdotes possuíam formulas curativas a base de plantas que eram guardadas como preciosidades e eram transmitidas oralmente aos seus sucessores.
Na Índia as primeiras referências ao uso terapêutico das ervas são encontradas nos Vedas (por volta de 2.500 AC). Na medicina Hindu as ervas eram filhas diletas dos deuses e só poderiam ser colhidas por pessoas puras e piedosas, e deveriam crescer longe dos olhos humanos. Eram utilizadas apenas com o objetivo da limpeza do corpo (estimulando as secreções) e com a função sedativa.
Todos esses registros arcaicos trazem uma clara analogia, sobre a necessidade de harmonização entre as manifestações humanas e as manifestações cósmicas, que é onde se sustenta a saúde e a cura. A casta dos sacerdotes-reis do antigo Egito não ignorava esses preceitos, encontrados também nas escolas gregas, com Pitágoras, Platão e Sócrates. E foram os ensinamentos desses antigos sábios que abriram o caminho para Hipocrates, o Pai da Medicina (460-350 aC).
Logo apos a morte de Hipócrates, surge Aristóteles (384-322 aC). Suas concepções doutrinárias, diametralmente opostas às de Hipocrates tiveram êxito por milênios, embora as concepções hipocráticas ainda sobrevivessem no Império Romano.

No primeiro século da era cristã, viveu o grego Pedanius Dioscórides, medico militar que chegou a pertencer ao exercito de Nero. Viajando com os soldados de Nero por todo o mundo mediterrâneo foi colecionando centenas de espécies de plantas.
Dioscórides escreveu a mais completa síntese do conhecimento médico até a sua época (78 dC) – “A Matéria Médica”, onde ele disserta sobre remédios oriundos dos três reinos da natureza: animal, mineral e vegetal. No reino vegetal ela trata das propriedades curativas de cerca de seiscentas espécies.
A repercussão dessa obra foi tão grande, que durante toda a Idade Media uma quantidade enorme de manuscritos foi reproduzida. A Matéria Medica era considerada um dos mais preciosos presentes que se poderia oferecer a um príncipe.
Essa obra serviu de base a maior parte dos conhecimentos médicos do Oriente, depois entrou no Ocidente pelas mãos dos sarracenos e espalhou-se pela Europa, tornando-se a principal fonte de informação médica por centenas de anos. A cópia mais antiga que existe da obra de Dioscórides é um manuscrito bizantino do Séc. VI denominado “Códice Vindobonensis”.
Alguns anos depois de Dioscórides, surgiu Galeno (138-201 dC). Galeno também era grego, e foi medico do Imperador Marco Aurélio.
Escreveu mais de duzentas obras, sendo que cerca de cem são hoje reconhecidas como de sua autoria. Foi ele quem descobriu que a urina é secretada pelos rins, sendo considerado o Pai da Fisiologia.
Contudo, um de seus maiores feitos foi à descoberta de um método de separar os princípios ativos de uma planta, denominado galênico, que é utilizado até hoje.
Com o declínio do Império Romano e a desestruturação de sua sociedade pelas invasões bárbaras, a importância da medicina retornou ao Oriente.
Os árabes, a partir da fundação de Bagdá (762 dC) asseguraram a coexistência das doutrinas de Hipócrates e de Aristóteles. Obtiveram grandes avanços na Matemática, Física, Química, Botânica, Metalurgia e Mineralogia.
Criaram o alambique, através do qual fizeram os primeiros destilados a base de plantas, as alcolaturas e as essências (inclusive de flores). Dentre os expoentes da medicina árabe destacam-se Gerber, no século VIII, Razis, no século IX e Serapião, no século X.Mais foi Avicena (980-1037) o mais famoso médico árabe da antiguidade.

Aos dezessete anos Avicena já era um mestre na arte de curar, tendo já sua fama se espalhado pelo mundo árabe. Usava lavanda, camomila e menta em seus preparos e ficou conhecido por mais de seis séculos como o "Príncipe dos Médicos". As primeiras farmácias, instaladas em Bagdá, datam desta época.
Avicena fez renascer com força as idéias de Hipócrates. Seus discípulos, Averroés e Maimônides (séc. XII) também eram hipocráticos ferrenhos. Em 1258, com a destruição de Bagdá pelos mongóis, a tradição de Hipócrates quase se perdeu no oriente.
Na Idade Média os mosteiros tornaram-se centros importantes de estudo. Os livros e manuscritos existentes foram todos recolhidos pelos monges, que se apoderaram do saber antigo. Ao redor das igrejas, mosteiros e conventos foram cultivadas ervas, utilizadas como alimentos, bebidas e medicamentos. Muitos destes herbários ainda existem e são conservados até hoje na Europa, principalmente na Inglaterra.

No Séc. IX foi criada a Escola de Salerno na Itália, uma universidade de medicina que reunia todos os ensinamentos da Antigüidade. Até o século XIV ela permaneceu impregnada das tradições hipocráticas e da alquimia árabe. Logo se tornou um importantíssimo centro de estudo e modelo para todas as outras universidades que se multiplicaram pela Europa a partir desta época. Sua obra mais importante é o "Regimen Sanitatis SaIernitatum", que versa sobre ervas medicinais.
Os relatos das viagens de Marco Polo, quase três séculos depois, tornam mais importante o uso das ervas e, principalmente, das especiarias, que eram então mercadorias de alto valor.
Logo após a invenção da imprensa (1450) por Gutenberg, quando Cristóvão Colombo já havia desembarcado várias vezes na América e Vasco da Gama já descobrira o caminho para as Índias, surge na cena médica européia, em plena Renascença, Phillipus Aurelius Theophrastros, (1493-1541), ou como ficou conhecido posteriormente Paracelso, um gênio na arte de curar.
Paracelso viajou por toda a Europa à procura de plantas e minerais, mas principalmente ouvindo feiticeiros, curandeiros e parteiras. Para grande escândalo das pessoas cultas, não escrevia suas observações em latim, a língua culta da época, mas em linguagem comum e ainda tinha a audácia de comparar importantes estudos médicos com a sabedoria popular. Sendo hoje reconhecido como um grande alquimista, seu maior feito foi mudar o curso da medicina ocidental com suas descobertas e estudos, que serviram de base para os pesquisadores dos séculos seguintes. Sua medicina é precursora da moderna homeopatia.

Concomitante a Paracelso surgiu uma obra de medicina botânica de valor incalculável, chamada de Matéria Medica ou Dioscórides. O médico espanhol Andrés de Laguna, no final do século XV, formou um compendio, onde uma primorosa tradução da matéria Medica de Dioscórides é feita com muitos adendos e comentários, além da inclusão dos novos conhecimentos acumulados no decorrer da Idade media.

No inicio do século XVII, um discípulo de paracelso chamado Oswaldus Crollius, defende os princípios da similitude e da infinitesimalidade em duas grandes obras: A Química Real e o tratado das assinaturas.

Em 1644, um padre de nome Kircher publicou um livro com indicações de remédios minerais, animais e soros antivenenosos, os quais confirmam os conceitos primários de analogia e infinitesimalidade, de Paracelso e Crollius.

No final do século XVI, na Europa, principalmente na Inglaterra, as ervas e as especiarias tinham um valor e uma importância tão grande quanto o ouro e a prata.
E embora muito dos conhecimentos das ervas estivessem ligado a bruxas, fadas e duendes, era raro uma casa que não tivesse um armário com ervas medicinais.
Neste mesmo século o herborista mais conhecido era Gerard e edições de seu famoso livro "The Herbal", publicado pela primeira vez em 1597, ainda pode ser encontrado em livrarias inglesas, sendo que uma de suas ervas preferidas o alecrim.
No Século XVI, Culpeper tentou reviver todo o poder das ervas, era desacreditado pelos médicos mais ortodoxos que o difamaram. Ele defendia a Doutrina das Assinaturas, a importância dos signos do zodíaco e nas cores das pedras preciosas para curar doenças. Atualmente seus estudos são aceitos por pesquisadores e seus livros muito usados como fonte de consulta.

No final do século XVIII, surgem as obras magistrais de Goethe: “A Metamorfose das Plantas” e a “Teoria das Cores”.
A influência de Goethe deu-se em várias áreas. O “método” goetheano de análise fenomenológica não se restringia à botânica, mas também a teoria do conhecimento e das cores.
O nascimento da moderna homeopatia ocorreu com Samuel Hahnemann (1755-1843), através do seu trabalho prático e de suas obras, entre as quais destacam-se: Organon e a Arte de Curar , onde está exposta toda a sua doutrina homeopática; A Matéria Médica Pura, (1821), e o Tratado das Moléstias Crônicas (1828). Hahnemann reconstrói os quatro princípios médicos de Paracelso, corroborando-os cientificamente através de experimentação e observação.

Ainda no século XVIII, Lineu, o grande naturalista sueco, criou o seu famoso sistema nomenclatura botânica, dividindo as plantas em vinte e quatro classes e diversas sub-classes, o que permitiu com que os pesquisadores fizessem um estudo mais metódico, complexo e abrangente das plantas.

Já no século XX, um francês de origem camponesa chamado Maurice Messengué preparava os seus remédios com plantas e flores silvestres, adquirindo notoriedade como curador.
Messegúe aprendeu a arte da cura pelas ervas com seu pai que, por sua vez, aprendera com seu avô. Essa cultura repassada de geração a geração fez com que ele já fosse um especialista no assunto aos vinte anos de idade.
A maioria dos seus tratamentos eram efetuados através de infusões de ervas do campo. Ele mergulhava os pés e as mãos dos pacientes nessas infusões. Embora sendo muito querido e protegido pelo povo, foi muitas vezes desacreditado e processado pela ciência oficial. Apesar de tudo continuou com sua obra de caridade, sendo considerada hoje uma referência do herborismo francês.

No início do século XX, o filósofo austríaco Rudolf Steiner fundou a Antroposofia, inspirado no método de observação dos fenômenos desenvolvido por Goethe (no qual a parte subjetiva do observador é também considerada). Também a partir deste conhecimento a antroposofia desenvolveu medicamentos oriundo dos três reinos da natureza (mineral, vegetal e animal) elaborados a partir de uma farmacodinâmica que lida inclusive com as forças imponderáveis (tais como as forças vitais).
Toda a obra de Steiner está impregnada de uma visão holística e humanista da vida e da arte de curar.
Com a Revolução Industrial (final do século XIX), o uso das ervas com fins curativos passou a ser considerado ultrapassado. Através da química moderna, uma infinidade de princípios ativos das plantas foram sintetizados em laboratórios. Hoje buscando formas alternativas de cura, as pessoas estão redescobrindo os valores curativos das plantas e despertando para o fato de que atrás de um medicamento quimicamente sintetizado em um laboratório, existe uma planta viva e real.

O USO CURATIVO DAS ERVAS NO BRASIL

ERVA DE SÃO JOÃO

A primeira obra com valor científico, que faz referências ao uso curativo das ervas no Brasil, surgiu na metade do século XVII (1640) através do medico holandês Gulielmus Piso, que acompanhou a expedição de Mauricio de Nassau. Piso estudou a flora e a farmacopéia silvícola brasileira, com extrema sensibilidade acadêmica e poética.
Sua obra História Natural e Médica da Índia Ocidental (Brasil) representa um marco importante na descrição das plantas e das propriedades fItoterápicas correspondentes, que lhes eram atribuídas pelos nossos índios.
Ao longo do tempo, no Brasil colônia o conhecimento dos escravos africanos sobre o poder curativo e magistico das plantas, foi incorporado ao saber dos índios brasileiros.
No inicio do século XX, Pio Correia compilou em uma extensa e completa obra intitulada Dicionário das Plantas Úteis do Brasil, todo o conhecimento botânico e curativo dos vegetais encontrados em nosso pais. Essa obra é uma referência e uma grande contribuição para aqueles que pretendem aprofundar seus conhecimentos na arte de curar através das plantas.

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